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Extremos climáticos urbanos

Por Marcelo Dutra da Silva
Ecólogo
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As chuvas da última semana e os eventos observados no norte gaúcho não deixam dúvida, o clima mudou e estamos vivendo um novo normal climático. Sim, vimos isso em anos anteriores, com muita força no ano passado, mas nada supera o que aconteceu agora. Um volume gigantesco de água, algo entre 500 e 700 milímetros, que evidentemente não foi suportado pelos rios, inundando os vales, devastando as cidades, deixando um rastro de destruição e morte, por onde as águas passaram.
O governo agiu rapidamente e foi eficiente no resgate e salvamento, em meio à maior tragédia climática do Rio Grande do Sul. O governador Eduardo Leite não hesitou em reconhecer que não estamos preparados para ocorrências dessa proporção e buscou ajuda do governo federal, que prontamente manifestou preocupação, visitou o Estado e disponibilizou recursos. Uma ação coordenada que também contou com os esforços de outros Estados, com envio de aeronaves, homens e equipamentos.
Um esforço que só não é maior que a resistência do povo gaúcho, frente aos eventos de um clima cada vez mais extremo. E este é o ponto. Somos fortes, mas nossas cidades não. Nossas infraestruturas urbanas não estão preparadas para o novo normal climático e vamos precisar nos adaptar, e rápido. Somamos a cada episódio prejuízos que são difíceis de calcular e desta vez com mortos e desaparecidos, que superam qualquer marca anterior.
O clima está diferente e nos afeta de diferentes maneiras, não só quando chove muito, mas quando venta forte e quando se estende por longos períodos de estiagem. Estamos experimentando tudo isso por aqui. Um descompasso gigantesco nas temperaturas, na umidade e no comportamento das chuvas que vêm trazendo consequências para a biodiversidade, economia e vida das pessoas. E quanto mais despreparados mais suscetíveis aos efeitos das mudanças climáticas. Então, o que fazer?
Evidentemente, cada caso ou posição geográfica terá uma coleção de medidas diferente, mas todas as situações compartilham da mesma receita, prevenir para não precisar remediar, ou seja, as nossas práticas, perspectivas e formas de construir a cidade precisarão ser revistas. Não é possível que as autoridades continuem permitindo edificar em áreas potencialmente arriscadas, que podem ser facilmente atingidas pelas águas, se o nível subir a cinco metros. E esta necessidade de uma nova governança para as cidades deve considerar tantos os momentos de chuva, quanto os momentos de intensidade dos ventos e estiagem. Governar ficou muito mais difícil!

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